Comunidades quilombolas denunciam contaminação por agrotóxicos e violações de direitos em São Benedito do Rio Preto (MA)
- Rama rede de agroecologia
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Os Quilombos Cancela e Santo Inácio, localizados no município de São Benedito do Rio Preto, Maranhão, vêm enfrentando um cenário alarmante de violações de direitos, conflitos territoriais e impactos ambientais provocados pela ação de grandes fazendeiros da região.
Moradores relatam que um avião agrícola pulverizou agrotóxicos por mais de 15 dias consecutivos sobre plantações no entorno das comunidades, contaminando o ar, os rios e o solo. A denúncia é grave: os venenos estariam atingindo diretamente os moradores, afetando a saúde das famílias e a segurança alimentar dos territórios.
Segundo relatos, o impacto da pulverização aérea não se restringiu aos quilombos Cancela e Santo Inácio. Também foram afetados os povoados Santa Rosa, Chororô, Capelão, Macajuba, Baixinha dos Carneiros e Quebra Joelho, todos localizados em São Benedito do Rio Preto.
Além da contaminação por agrotóxicos, os moradores denunciam há anos um contexto contínuo de desmatamento, grilagem de terras e cerceamento das práticas tradicionais de agricultura. De acordo com informações da comunidade, eles estão proibidos de cultivar suas próprias roças. “Estamos há mais de três anos sem poder plantar”, afirmam.
A situação se agrava com a presença de seguranças armados contratados pelos fazendeiros, que intimidam e amedrontam as famílias quilombolas. Em Cancela, até mesmo o cemitério tradicional da comunidade teria sido cercado, uma ação vista como símbolo da desumanização e tentativa de apagamento cultural.
Há anos, o agronegócio tem invadido os territórios tradicionais da região, desmatando, contaminando nascentes e impondo um regime de medo e violência. Moradores enfrentam exaustivas batalhas judiciais, enquanto o agronegócio se utiliza da máquina do Estado para intimidar, coagir e avançar. Trata-se de uma área que está sendo devastada por interesses econômicos que não respeitam a história, os saberes e as tradições dos povos quilombolas. Já houve casos de casas queimadas, roças destruídas, pessoas ameaçadas de morte. E mesmo com inúmeras denúncias protocoladas, o Estado segue alegando falta de estrutura para fiscalizar e intervir.
As palmeiras de babaçu, fundamentais como fonte de renda e alimento para essas famílias, praticamente desapareceram da região. No Quilombo Cancela, a fome é uma realidade concreta. A insegurança alimentar avança de forma dramática, em um cenário de clara violação de direitos humanos.
O uso indiscriminado de veneno ameaça diretamente a saúde da população. Segundo os relatos, moradores estão adoecendo em razão da exposição aos produtos químicos pulverizados. Os agrotóxicos estão contaminando as nascentes dos rios que abastecem as comunidades. Essas comunidades dependem da roça e da pesca; sem isso, enfrentam a fome.
Infelizmente, esse cenário é um recorte do que acontece em inúmeras regiões em nosso estado. No Maranhão, comunidades tradicionais vêm denunciando a ação violenta do agronegócio, que utiliza os agrotóxicos como verdadeiras armas químicas para expulsar povos originários e comunidades tradicionais de seus territórios.
De acordo com o MapBiomas, o Maranhão é, pelo segundo ano consecutivo, um dos estados da região do MATOPIBA que mais desmata no Brasil, com 218.298,4 hectares de vegetação nativa destruídos em 2024. Esse avanço está diretamente relacionado à expansão da fronteira agrícola e ao uso intensivo de venenos.
É urgente garantir o direito à terra, alimentos saudáveis, à saúde, e à vida digna dessas populações que resistem com coragem e sabedoria diante do avanço do agronegócio.