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Abril de 2025: Maranhão vive escalada de envenenamento por agrotóxicos

Enquanto em todo o período de janeiro a abril de 2024 foram registradas 34 comunidades atingidas em 12 municípios, o ano de 2025 revela uma escalada sem precedentes: apenas em abril deste ano, o número saltou para 74 comunidades afetadas — 31 a mais que em março (43 comunidades), representando um aumento de 72% em apenas um mês. Os dados, atualizados pela Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA), FETAEMA e o LEPENG/UFMA, mostram ainda que a contaminação se expandiu para 21 municípios em 2025 (ante 15 em março), consolidando um cenário de emergência socioambiental.


A comparação com 2024 escancara a aceleração descontrolada do agronegócio: em quatro meses do ano passado, o total de comunidades impactadas por agrotóxicos foi menos da metade do registrado apenas em abril de 2025. O ritmo da devastação exige ação imediata do poder público e da sociedade diante da violação de direitos básicos de comunidades tradicionais sendo violados diariamente.



Casos emblemáticos de abril de 2025 revelam padrão de violações

Em abril, novos ataques com drones pulverizando agrotóxicos marcaram territórios tradicionais no Maranhão:


  • Centro Novo do Maranhão e Araguanã: As aldeias Gurupiuna e Maratoyrenda (Terra Indígena Alto Turiaçu, do povo Ka'apor) foram atingidas por pulverização ilegal via drone.

  • Timbiras: A comunidade Canapistola (Território Campestre), que em 2024 sofreu intoxicações graves e perda total de roças - afetando até cacimbões e a segurança alimentar - foi novamente alvo. Apesar da lei municipal aprovada em 2024 que proíbe a pulverização aérea (inclusive por drones), as violações continuam.

  • São Raimundo do Doca Bezerra: As comunidades Monte Castelo, Três Rios e Corrado entraram no mapa de contaminação, com plantios de subsistência da agricultura familiar destruídos por drones.

  • Brejo: O caso mais alarmante - 19 novas comunidades impactadas em um único mês. A região, há anos pressionada pelo avanço da soja, vive um colapso socioambiental: cerrado devastado, nascentes e igarapés secando, enquanto as populações tradicionais sofrem os efeitos cumulativos do envenenamento.








Comunidades Afetadas em 2025:

  1. Afonso Cunha: Barrão e Olho D'água do França;

  2. Araguanã: Maratoyrenda (TI Alto Turiaçu);

  3. Bacabal: Barreirinhas, Catucá, Fundamento, Jardins, Piratininga, Santa Efigênia, Santa Maria, Santo Antônio, Seco das Mulatas e Sobradinho;

  4. Brejo: Boca da Mata, Carrapatinho, Centro dos Netos, Criolis, Faveira, Gameleira, Guarimã, Ingá, Lagoa Seca, Macacos dos Vítos, Panela, Prata, São João dos Pilões, São José, São Raimundo, Tabocas, Várzea do Meio, Veado Branco e Vila das Almas;

  5. Buriti: Araçá e Vila;

  6. Centro Novo do Maranhão: Gurupiuna (TI Alto Turiaçu);

  7. Duque Bacelar: Pasandu e Roça do Meio;

  8. Esperantinópolis: Potó;

  9. Magalhães de Almeida: Lagoa do Bacuri;

  10. Parnarama: Quilombo Cocalinho;

  11. Peritoró: Feliz Alegria;

  12. Santa Inês: Bom Jesus;

  13. São Benedito do Rio Preto: PA Vista Verde;

  14. São Francisco do Brejão: Centro do Robertão;

  15. São Luís Gonzaga do Maranhão: Geré e Mata Burro;

  16. São Mateus do Maranhão: Água Branca, Água Branca I, Água Branca II, Água Branca III, Água Branca IV, Água Branca V, Água Branca VI, Água Preta, Alto Grande, Andirobal, Curva, Dendê, Setor MA-01 e Vila Nova;

  17. São Raimundo do Dóca Bezerra: Conrado, Monte Castelo e Três Rios;

  18. Timbiras: Canapistola (Território Campestre);

  19. Timon: Boa Esperança;

  20. Urbanos Santos: Cajazeiras, Serraria, Sítio do Meio e Surrão;

  21. Viana: Aldeia Cajueiro, Aldeia Nova Vila, Aldeia Taquaritiua, Baía, Piraí e  Vilinha.

 


Impactos acumulados em 2025: um retrato da crise

Os dados de abril de 2025 escancaram uma escalada alarmante dos ataques com agrotóxicos no Maranhão:

  • 74 comunidades rurais atingidas, em 15 municípios diferentes;

  • Destruição ambiental: contaminação de rios, igarapés e nascentes, envenenamento da mata nativa e de plantações da agricultura familiar – ameaçando diretamente a segurança alimentar de milhares de pessoas;

  • Vítimas humanas: crianças, adultos e idosos intoxicados, com relatos de queimaduras químicas, enjoo, dificuldades respiratórias e sofrimento emocional coletivo, marcado por medo constante e ansiedade;

  • Violência e ameaças: moradores que denunciam os crimes são intimidados, inclusive sob mira de armas de fogo;

  • Retrocessos políticos: articulações do Sindicato de Aviação Agrícola, com fundo de R$ 1,3 milhão, para fazer lobby contra projetos de lei que tramitam nos municípios que visam proibir a pulverização aérea de agrotóxicos – como revelou matéria do portal O Joio e O Trigo.


Essa realidade evidencia um padrão de abandono institucional e a violação sistemática de direitos humanos e territoriais, enquanto as comunidades seguem expostas à violência química e  e à conivência ou omissão do Estado.



Padrão de violações:Os relatos das comunidades atingidas seguem um padrão recorrente e preocupante:

  1. Pulverização próxima ou diretamente sobre áreas habitadas;

  2. Contaminação das fontes de água e dos alimentos produzidos pela agricultura familiar;

  3. Intimidação de quem denuncia ou resiste;

  4. Omissão ou conivência das autoridades locais.



Impactos da pulverização aérea de agrotóxicos:

A pulverização aérea de venenos tem causado danos profundos e muitas vezes irreversíveis às comunidades e ao meio ambiente. Entre os principais impactos, destacam-se:

  • Contaminação das águas: poços, cacimbões, rios e igarapés têm sido envenenados, prejudicando a saúde das famílias e a vida aquática;

  • Envenenamento da comida: cultivos da agricultura familiar são contaminados, afetando quem planta e quem consome;

  • Prejuízos econômicos e sociais: a destruição das roças compromete a subsistência, a soberania alimentar e o modo de vida das famílias do campo;

  • Adoecimento físico e psicológico: além das intoxicações, cresce o sofrimento mental gerado pela insegurança constante.



Agrotóxicos como arma química e ferramenta de expulsão:

O uso indiscriminado de agrotóxicos atinge a sociobiodiversidade, os modos de vida tradicionais e a permanência das comunidades em seus territórios. Moradores denunciam que os venenos são jogados diretamente sobre casas, roçados e até sobre as pessoas – transformando o agrotóxico em arma de guerra para forçar o êxodo rural e abrir caminho para o avanço do agronegócio.



Guerra química e desmatamento:

O que acontece no Maranhão é parte de uma estratégia mais ampla de grilagem de terras e destruição dos ecossistemas, como o Cerrado, a Amazônia maranhense e a Mata dos Cocais. A pulverização de venenos envenena a terra, contamina a água e tenta calar, pelo medo, as vozes que resistem.



Como denunciar:

A RAMA disponibiliza um canal de denúncias para que as comunidades afetadas relatem os casos de pulverização. Envie fotos, vídeos e relatos para o WhatsApp: (98) 98522-2988. As denúncias podem ser anônimas e são fundamentais para documentar e combater essas práticas criminosas.



O Mapa:

O documento “Territórios Diretamente Vitimados por Agrotóxicos no Maranhão – Abril de 2025” é mais um alerta urgente sobre a guerra química que assola o campo maranhense. Em resposta a essa realidade, é essencial fortalecer a organização comunitária, exigir políticas públicas que protegem as comunidades e ampliar as vozes das populações que denunciam esse modelo de morte.



A saída é a agroecologia: com justiça, com vida e sem veneno


Diante da violência promovida pelo agronegócio – que devasta, envenena, desmata e expulsa – a agroecologia se apresenta como alternativa concreta, popular e ancestral de cuidado com a vida, com a terra e com as pessoas.


A agroecologia não apenas produz alimentos saudáveis, mas fortalece os laços comunitários, protege os territórios, valoriza o conhecimento das agricultoras e agricultores e respeita os ciclos da natureza. Ao contrário do modelo que impõe veneno e monocultura, ela promove soberania alimentar, justiça climática, resiliência frente às crises ambientais e permanência digna no território.



É com os pés no chão e as mãos na terra que as comunidades reafirmam: onde o veneno tenta matar, a agroecologia insiste em fazer viver.


Saiba mais sobre a campanha Chega de Agrotóxicos

 

 
 
 

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