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VI EMA Reafirma a Agroecologia como Caminho para o Bem Viver e Denúncia Avanço dos Venenos e da Financeirização da Natureza

O Encontro celebrou os 27 anos da RAMA e foi marcado pela força da I Plenária das Mulheres, que ecoou: "Sem feminismo, não há agroecologia!"


Foto Oficial do VI EMA - Foto: Ingrid Barros
Foto Oficial do VI EMA - Foto: Ingrid Barros

Entre os dias 26 e 28 de agosto de 2025, no auditório da ETAEMA, em São Luís, se transformou no coração da resistência e da esperança agroecológica do Maranhão. Foi ali que a Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA) realizou o VI Encontro Maranhense de Agroecologia (VI EMA), reunindo agricultores e agricultoras familiares, camponeses, ribeirinhos, extrativistas, quilombolas, indígenas, pesquisadores, mulheres e juventudes de todos os cantos do estado.

Sob o tema “Agroecologia do Maranhão rumo à Cúpula dos Povos”, o encontro foi um espaço potente de denúncia dos modelos opressores e de anúncio de um futuro possível, baseado no bem viver, na soberania alimentar e na defesa intransigente dos territórios.


Uma Análise de Conjuntura que Define a Luta

Panel 1 - Foto: Ingrid Barros
Panel 1 - Foto: Ingrid Barros

Os debates começaram fortes já no primeiro dia. A análise de conjuntura sociopolítica colocou em evidência as mudanças climáticas e os agrotóxicos como uma arma química de guerra contra os povos. O Painel 1, sobre "Ações de enfrentamento ao avanço do agronegócio e uso de agrotóxicos", contou com a força de entidades como o Fórum Estadual de Impactos dos Agrotóxicos, a própria FETAEMA, a RAMA e a CNBB, reforçando a necessidade de uma união ampla em defesa da vida.


A Força Inquestionável das Mulheres: A I Plenária

Plenária das Mulheres da RAMA - Foto: Ingrid Barros
Plenária das Mulheres da RAMA - Foto: Ingrid Barros

O segundo dia do VI EMA foi historicamente marcado pela I Plenária das Mulheres da Agroecologia, com o tema “As resistências femininas rumo à Cúpula dos Povos”. Foi um momento de profunda catarse e poder, onde as mulheres compartilharam as angústias provocadas pelas violências física e psicológica, pelo machismo e pelo patriarcado. Como registrado na Carta Política, foram dores “profundas ao mesmo tempo que são invisíveis aos olhos”.

Mas a plenária foi, acima de tudo, um espaço de resistência. Através da poesia, do canto, da partilha de alimentos saudáveis e da prática do autocuidado coletivo, as mulheres reafirmaram sua força. Suas vozes ecoaram declarações poderosas: “É preciso olhar nos olhos uma das outras”, “Nós temos direitos, inclusive de não fazer nada se a gente quiser” e “Nossos corpos e territórios não devem ser zonas de sacrifícios, ao contrário, somos e temos corpos sagrados”. O recado unânime: “Sem feminismo, não há agroecologia!”.


Pacará de Saberes e os Balaios de Experiências: A Riqueza dos Territórios

Pacará de Saberes - Foto: Rogério Albuquerque
Pacará de Saberes - Foto: Rogério Albuquerque

A riqueza do VI EMA esteve na partilha de saberes. O “Pacará de Saberes” permitiu que organizações, mulheres, jovens e pesquisadores apresentassem experiências concretas de agroecologia em ação. Esse momento emocionou, mostrando a prática daqueles que, com “ousadia, rebeldia e teimosia”, cuidam de seus quintais, das florestas e da sociobiodiversidade.

Já os “Balaios de Experiências” do último dia resgataram os 27 anos de trajetória da RAMA, mostrando como a rede tem se organizado para fortalecer as ações das organizações nos territórios e mobilizar a resistência.


Ferramentas para a Luta: Relançamento de Cartilhas

Um momento de extrema importância prática foi o relançamento de duas ferramentas fundamentais para a resistência das comunidades. A cartilha “Guerra Química no Maranhão: pulverização de agrotóxicos sobre comunidades” é mais do que uma publicação; é um documento que revela um cenário de destruição e violação sistemática dos direitos humanos e da natureza. Ela reúne depoimentos impactantes e fotografias dos povos camponeses que vivem sob constante ameaça, na linha de frente de uma guerra química travada pelo agronegócio. O estudo monitorou 231 comunidades em 35 municípios, a maioria localizada em regiões de expansão das monoculturas de soja e eucalipto, e evidencia o alarmante crescimento no uso de agrotóxicos no estado – com destaque para o glifosato –, posicionando o Maranhão como o terceiro maior consumidor na Amazônia Legal.

Junto a ela, foi relançado o “Manual Popular de Denúncia: Protocolo de Denúncia de Crimes Ambientais – Agrotóxicos e de Palmeira de Babaçu”. Juntas, estas publicações armam os povos com conhecimento jurídico, técnico e testemunhal para documentar violações, formalizar denúncias e defender seus territórios, transformando-se em instrumentos essenciais na busca por justiça.


Da Denúncia à Exigência: Os Compromissos da Carta Política

O encontro não se limitou a debater; construiu coletivamente caminhos e exigências, consolidadas na Carta Política do VI EMA. O documento é um farol para as lutas futuras e inclui pontos fundamentais:

  • Repúdio à Criminalização: A RAMA repudia veementemente a ação de criminalização movida pelo SINDAG, reafirmando que “não recuaremos um centímetro da luta!”.

  • Campanha Chega de Agrotóxicos: O compromisso é dar continuidade à campanha, lutando por leis estaduais e municipais que proíbam a pulverização aérea e reduzam o uso de venenos, com incidência inclusive em cortes internacionais.

  • Fortalecimento de Mulheres e Juventudes: A carta reforça a necessidade de garantir direitos e combater toda forma de violência, afirmando que “Sem juventudes, não há agroecologia!”.

  • Regulamentação da Política Estadual de Agroecologia (Peapoma): Exige-se a regulamentação da Peapoma com a participação efetiva dos povos tradicionais e agricultores familiares na gestão, com recursos para sua implementação.

  • Educação do Campo: É exigido do governo do Estado investimento sério e contínuo nas escolas do campo, com formação docente e reconhecimento do campo como território de saberes. “Sem educação do/no campo, não há agroecologia!”.


Celebração e Reafirmação

Foto: Ingrid Barros
Foto: Ingrid Barros

Celebrando seus 27 anos, a RAMA saiu do VI EMA mais fortalecida e determinada. O encontro reafirmou que a agroecologia é o modo de vida dos povos do campo, das florestas e das águas, e que a organização popular é o único caminho para um futuro justo e saudável.


Como encerra a Carta Política, em um grito de guerra e de identidade: “Somos sementes, somos floresta, somos as águas, somos a terra, somos os espíritos que anunciam os frutos da vida, somos a agroecologia!”.


Acesse a íntegra da Carta Política do VI EMA AQUI

Realização: Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA)

Apoio: Grassroots International, Salve a Floresta, Fundo Babaçu/MIQCB, CMTR, Agroecology Fund, Tenure Facility e MIQCB.


 
 
 

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