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Tuxa resiste: Povo Ka’apor enfrenta invasores e rejeita mercado de carbono

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A Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA) se une ao Conselho de Gestão Ka’apor Tuxa Ta Pame, do povo indígena Ka’apor, em Alto Turiaçu (MA), na denúncia de graves violações de direitos em curso no território, a partir das investidas de um projeto REDD+, sem o devido processo de consulta e consentimento livre, prévio e informado, como determina a Convenção 169 da OIT.


O grupo Tuxa Ta Pame torna pública a sua posição diante do contexto de conflito socioambiental que ameaça seu território, sua autonomia e seu modo de vida. A nota que publicamos abaixo é de autoria dos próprios indígenas, em resistência, mobilização e comunicação direta com a sociedade brasileira e internacional.


Reconhecemos a legitimidade da luta Ka’apor e reafirmamos nosso compromisso com a garantia do bem viver, na defesa dos direitos originários, da floresta viva e da autodeterminação dos povos.


A seguir, divulgamos a íntegra da nota do Conselho de Gestão Ka'apor Tuxa Ta Pama.




NOTA PARA OS ADVERSÁRIOS DO BEM VIVER


Nós somos os Tuxa do Povo Ka’apor, vivemos na floresta e da floresta fazendo e seguindo tudo como Mair deixou pra gente viver, lutando contra as formas de dominação do colonizador awa’i.


Todos os Ka’apor sabem como viveu os antigos Tuxa, o que ele deixou de bom exemplo de bem viver para os Ka’apor te, porque nossa história mostra que não podemos ser traiçoeiros, mentirosos como Ae e nem gananciosos, arrogantes e falsos como Saracura. Esses são os Ka’aporan.


Infelizmente vocês Awa’i acabaram colocando no mundo comportamentos que reforçam o projeto de Ae e Saracura. Esse projeto de Estado começou com SPI e depois com a Funai. 

Os Awa’i trouxeram a religião, que sufoca e mata nossas espiritualidades. Nossa espiritualidade se manifesta em tudo que tem vida na floresta, como é Mair. Também trouxeram os chefes, os caciques que anulam, apagam e destroem o diálogo e nossas formas coletivas de viver. Não aceitamos a liderança de caciques.


Em 2013, num grande encontro de uma semana, reunimos todas as lideranças Ka’apor de todas as comunidades do território para pensar uma maneira de acabar com essas práticas trazidas pelos Awa’i do mal, que poderiam levar a gente a perder a cultura e o território.  Juntos decidimos retomar o modelo de vida dos Tuxa, através de Jupihu Katu ha ou “Acordo de Convivência Ka’apor”.


Em 2015 nós defendemos nosso território contra uma entrada madeireira da Nova Conquista e Zé Doca, mas entre nós os seguidores de Ae e Saracura preferiram ficar do lado dos agressores, criminalizando os Tuxás e sua assessoria. Servidores do Estado se juntaram aos ka’aporan para tentar transformar os invasores em vítimas.


Alguns ka’aporan com histórico de casamentos com Awa’i, e outros, acharam bom viver como Ae e Saracura. Eles resolveram seguir e se unir com Awa’i dos grandes projetos de destruição da floresta e da vida – madeireiros, fazendeiros, grileiros, Mineração Vale do Rio Doce, Mercado de Floresta com crédito de carbono. 


Somos Tuxa, do Povo Ka’apor, estamos espalhados em diversas regiões do nosso território, mesmo que alguns estejam ainda amordaçados, outros acorrentados, outros sufocados pelos ka’aporan e Awa’i do mal, mas desejamos nos libertar dos caminhos de Ae e Saracura para seguir Mair.


Vamos continuar lutando por ser Tuxa seguindo Mair que está com a gente em tudo e em todos os lugares de luta e resistência por um Bem Viver. 


A justiça federal dos Awa’i já afastou num primeiro momento a empresa clandestina norte americana Wildlife Works Brasil do nosso território. E sabemos que ela continua financiando ataques contra a gente e nossos assessores.


Todos Ka’apor te sabem viver na floresta e da floresta sem acabar com ela. E a gente sabe que deram esse nome pra gente porque se não existir floresta não existirá Ka’apor. Não aceitamos negociar nossa casa e todos nossos parentes que vivem nela. Dinheiro é só um pedaço de papel que sai da mão da gente e depois não temos mais. Só causa conflito e morte. 


Ajuizamos a ação judicial contra a Wildlife Works Brasil, empresa estrangeira que engana nossos parentes. Eles não entendem e nem falam bem o português, mas foram convencidos pelos ka’aporan a assinar ata de reunião para um projeto que nem foi regulamentado no Brasil.


Nossa posição contra o crédito de carbono é a mesma e seguida por muitos povos da América e outros povos de outros continentes do mundo. 


Nossa decisão é legítima porque respeita o clima, a defesa da soberania alimentar e dos territórios no mundo. Nossa decisão é definitiva, não passa por urnas e nem se conta por números porque ser Tuxa é estar com os Tuxa. É um sentimento de pertencer ao povo Ka’apor de verdade.


Nossa floresta e nosso território guardam a gente e nossas gerações para sempre.

Exigimos respeito aos Tuxa ta pa me, nossos Ka’a mu katu ha que como guardiões do bem viver impedem a entrada de agressores. Respeitem nosso Jumu’eha renda Keruhu que orienta nossas formas de ensinar e aprender com a floresta em nosso centro de cultura e educação comunitária.  Respeitem nosso Jupihu katu ha que se orienta pela cultura ka’apor nosso dia a dia contra os vícios do álcool, drogas e outros modos de vida agressivos do awa’i.


Respeitem nossa autonomia, nosso Autogoverno, nosso jeito de ser, viver e decidir como Ka’apor te.


Tuxa sabe, Tuxa vive, Tuxa decide!


 
 
 

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