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Maio de 2025: 15 comunidades atingidas por agrotóxicos no Maranhão – já são 89 no ano

São Benedito do Rio Preto lidera os casos do mês com oito comunidades afetadas. De janeiro a maio, 89 comunidades em 25 municípios foram contaminadas por agrotóxicos, revelando o avanço de um projeto de destruição contra os povos e os territórios.

O mês de maio de 2025 escancarou, mais uma vez, a violência do agronegócio sobre os territórios tradicionais do Maranhão. Ao todo, 15 comunidades foram atingidas por agrotóxicos em apenas um mês, espalhados principalmente por aviões e drones agrícolas, contaminando o ar, as águas, o solo e, sobretudo, as vidas de quem resiste na terra.


Com os novos dados de maio, o acumulado do ano já chega a 89 comunidades contaminadas em 25 municípios maranhenses, segundo levantamento da Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA), em parceria com a Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Maranhão (FETAEMA) e o Laboratório de Extensão, Pesquisa e Ensino de Geografia da Universidade Federal do Maranhão (LEPENG). O mapa “Territórios Diretamente Vitimados por Agrotóxicos no Maranhão (Maio/2025)”, lançado mensalmente pela rede, escancara a escalada de um modelo de “desenvolvimento”, onde o veneno é usado de forma intensiva que chega às comunidades como uma verdadeira guerra química, uma arma de destruição.


O maior número de ocorrências em maio se concentrou em São Benedito do Rio Preto, onde oito comunidades quilombolas e rurais – Cancela, Santo Inácio, Santa Rosa, Chororô, Capelão, Macajuba, Baixinha dos Carneiros e Quebra Joelho – sofreram ataques intensos durante mais de 15 dias seguidos. A exposição prolongada ao veneno causou doenças, agrava a insegurança alimentar e impôs barreiras violentas à produção de alimentos saudáveis pelas famílias camponesas.


A situação na região é crítica. Moradores denunciam que estão proibidos de plantar há mais de três anos, vítimas de decisões judiciais que favorecem grandes fazendeiros. Seguranças armados intimidam famílias, e até o cemitério do Quilombo Cancela foi cercado, num ataque simbólico à memória ancestral e à cultura quilombola. Sem poder plantar, colher ou pescar, a fome e a desesperança se alastram.


Os impactos da contaminação se estendem para além de São Benedito. No Território Indígena Alto Turiaçu, na Amazônia maranhense, aldeias Inajatyrenda, Murutyrenda e Gurupiuna seguem sendo atingidas pela pulverização. A aldeia Gurupiuna permanece sob risco constante.


Outras ocorrências foram registradas em três comunidades do município de Altamira do Maranhão e no bairro Nova Brasília, no município de Lago do Junco.

Comunidades Afetadas em 2025:

  1. Açailândia: Assentamento Califórnia;

  2. Afonso Cunha: Barrão e Olho D'água do França;

  3. Altamira do Maranhão: Caldeirão, Olho D’Água e São Raimundo;

  4. Araguanã: Maratoyrenda (TI Alto Turiaçu);

  5. Bacabal: Barreirinhas, Catucá, Fundamento, Jardins, Piratininga, Santa Efigênia, Santa Maria, Santo Antônio, Seco das Mulatas e Sobradinho;

  6. Brejo: Boca da Mata, Carrapatinho, Centro dos Netos, Criolis, Faveira, Gameleira, Guarimã, Ingá, Lagoa Seca, Macacos dos Vítos, Panela, Prata, São João dos Pilões, São José, São Raimundo, Tabocas, Várzea do Meio, Veado Branco e Vila das Almas;

  7. Buriti: Araçá e Vila;

  8. Centro do Guilherme: Inajaiatyrenda (TI Alto Turiaçu) e Murutyrenda (TI Alto Turiaçu);

  9. Centro Novo do Maranhão: Gurupiuna (TI Alto Turiaçu);

  10. Duque Bacelar: Paisandu e Roça do Meio;

  11. Esperantinópolis: Potó;

  12. Lago do Junco: Bairro Nova Brasília;

  13. Magalhães de Almeida: Lagoa do Bacuri;

  14. Parnarama: Quilombo Cocalinho;

  15. Peritoró: Feliz Alegria;

  16. Santa Inês: Bom Jesus;

  17. São Benedito do Rio Preto: Baixinha dos Carneiros, Capelão, Cancela, Chororó, Macajuba, PA Vista Verde, Quebra Joelho, Santa Rosa e Santo Inácio;

  18. São Francisco do Brejão: Centro do Robertão;

  19. São Luís Gonzaga do Maranhão: Geré e Mata Burro;

  20. São Mateus do Maranhão: Água Branca, Água Branca I, Água Branca II, Água Branca III, Água Branca IV, Água Branca V, Água Branca VI, Água Preta, Alto Grande, Andirobal, Curva, Dendê, Setor MA-01 e Vila Nova;

  21. São Raimundo do Dóca Bezerra: Conrado, Monte Castelo e Três Rios;

  22. Timbiras: Canapistola (Território Campestre);

  23. Timon: Boa Esperança;

  24. Urbanos Santos: Cajazeiras, Serraria, Sítio do Meio e Surrão;

  25. Viana: Aldeia Cajueiro, Aldeia Nova Vila, Aldeia Taquaritiua, Baía, Piraí e  Vilinha.

Impactos acumulados em 2025: um retrato da crise:

Os dados de abril de 2025 escancaram uma escalada alarmante dos ataques com agrotóxicos no Maranhão:

  • 89 comunidades rurais atingidas, em 25 municípios diferentes;

  • Contaminação de rios, igarapés e nascentes, envenenamento de plantações e da mata nativa;

  • Intoxicações em crianças, adultos e idosos, com relatos de queimaduras químicas, enjoo, dificuldades respiratórias e sofrimento emocional coletivo;

  • Moradores intimidados sob mira de armas por denunciarem os crimes;

  • Lobby de R$ 1,3 milhão do Sindicato de Aviação Agrícola contra projetos de lei que tramitam nos municípios que visam proibir a pulverização aérea de agrotóxicos – como revelou matéria do portal O Joio e O Trigo.


Essa realidade evidencia um padrão de abandono institucional e a violação sistemática de direitos humanos e territoriais, enquanto comunidades seguem expostas à violência química e  e à conivência ou omissão do Estado.

Direitos sendo violados repetidamente:


Os relatos das comunidades atingidas seguem uma mesma lógica de agressão:

  • Pulverização próxima ou diretamente sobre áreas habitadas;

  • Contaminação de fontes de água e alimentos produzidos pela agricultura familiar;

  • Intimidação de quem denuncia;

  • Silêncio ou conivência das autoridades.

Perda e prejuízos irreparáveis:

A pulverização aérea de agrotóxicos provoca danos profundos, muitas vezes irreversíveis:

  • Contaminação das águas: poços, cacimbões, igarapés e rios envenenados;

  • Envenenamento da comida: lavouras da agricultura familiar contaminadas;

  • Adoecimento físico e psicológico: além das intoxicações, o medo e o sofrimento mental crescem nas comunidades;

  • Prejuízos econômicos: destruição das roças, perda da produção e insegurança alimentar.


Um caso simbólico dessa destruição é o do Assentamento Califórnia, em Açailândia no mês de abril, onde milhares de abelhas morreram após a pulverização, comprometendo seriamente a produção de mel e afetando o sustento de quem vivem da apicultura.

Agrotóxicos como arma química e ferramenta de expulsão:

O uso indiscriminado de agrotóxicos atinge a sociobiodiversidade, os modos de vida tradicionais e a permanência das comunidades em seus territórios. Moradores denunciam que os venenos são jogados diretamente sobre casas, roçados e até sobre as pessoas – transformando o agrotóxico em arma de guerra para forçar o êxodo rural e abrir caminho para o avanço do agronegócio.

Guerra química e desmatamento:

Essa violência se insere num plano maior de grilagem de terras, destruição dos biomas (Cerrado, Amazônia maranhense e Mata dos Cocais) e silenciamento das resistências.

Como denunciar:

Matemos um canal de escuta ativa para denúncias:

WhatsApp: (98) 98522-2988

Envie fotos, vídeos e relatos.

O anonimato é garantido.

O Mapa:

O documento “Territórios Diretamente Vitimados por Agrotóxicos no Maranhão (Maio de 2025)” é um alerta urgente sobre a guerra química no campo. Em resposta a essa realidade, é essencial fortalecer a organização comunitária, exigir políticas públicas que protegem as comunidades e ampliar as vozes das populações que denunciam esse modelo de morte.

A saída é a agroecologia: com justiça, com vida e sem veneno:

Diante da violência promovida pelo agronegócio – que devasta, envenena, desmata e expulsa – a agroecologia se apresenta como alternativa concreta, popular e ancestral de cuidado com a vida, com a terra e com as pessoas.


A agroecologia não apenas produz alimentos saudáveis, mas fortalece os laços comunitários, protege os territórios, valoriza o conhecimento das agricultoras e agricultores e respeita os ciclos da natureza. Ao contrário do modelo que impõe veneno e monocultura, ela promove soberania alimentar, justiça climática, resiliência frente às crises ambientais e permanência digna no território.

É com os pés no chão e as mãos na terra que as comunidades reafirmam: onde o veneno tenta matar, a agroecologia insiste em fazer viver.


Saiba mais sobre a campanha Chega de Agrotóxicos

 
 
 

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