Junho de 2025: 10 comunidades atingidas por agrotóxicos no Maranhão – já são 99 no ano
- Rama rede de agroecologia
- 16 de jul.
- 5 min de leitura
Pulverizações por aviões e drones seguem envenenando os territórios tradicionais, afetando a saúde das comunidades e a agricultura familiar. Destaque do mês vai para Magalhães de Almeida, com seis comunidades impactadas.
O avanço do agronegócio segue deixando um rastro de contaminação e violência no Maranhão. Em junho de 2025, 10 comunidades foram atingidas por agrotóxicos em três municípios, a maioria por meio da pulverização aérea feita por aviões e drones. O veneno não respeita cercas nem limites: a deriva leva os agrotóxicos para além do alvo, atingindo casas, plantações, nascentes, pessoas e modos de vida.
Com os dados de junho, o acumulado do primeiro semestre chega a 99 comunidades impactadas em 25 municípios maranhenses, conforme levantamento da Rede de Agroecologia do Maranhão (RAMA). É um retrato grave da escalada de um modelo que promove envenenamento em larga escala, violando direitos e destruindo o que resta da sociobiodiversidade do estado.
O município com maior número de ocorrências no mês foi Magalhães de Almeida, onde seis comunidades foram atingidas por pulverizações que colocaram em risco a saúde das famílias e contaminaram áreas de produção da agricultura familiar.
Outro destaque preocupante vem de Timbiras, onde duas comunidades foram impactadas mesmo com a existência de uma lei municipal que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos. Isso demonstra o descumprimento da legislação local e a fragilidade da fiscalização, além da omissão do Estado diante das denúncias recorrentes feitas pelas comunidades.
Em São Benedito do Rio Preto, onde há anos comunidades quilombolas denunciam a ação predatória do agronegócio, outras duas comunidades foram novamente atingidas neste mês. A permanência dos ataques revela um cenário de impunidade e conivência institucional com os grandes interesses econômicos.




Comunidades Afetadas de janeiro a junho de 2025:
Açailândia: Assentamento Califórnia
Afonso Cunha: Barrão, Olho D'Água do França
Altamira do Maranhão: Caldeirão, Olho D’Água, São Raimundo
Araguanã: Maratoyrenda (TI Alto Turiaçu)
Bacabal: Barreirinhas, Catucá, Fundamento, Jardins, Piratininga, Santa Efigênia, Santa Maria, Santo Antônio, Seco das Mulatas e Sobradinho
Brejo: Boca da Mata, Carrapatinho, Centro dos Netos, Criolis, Faveira, Gameleira, Guarimã, Ingá, Lagoa Seca, Macacos dos Vítos, Panela, Prata, São João dos Pilões, São José, São Raimundo, Tabocas, Várzea do Meio, Veado Branco, Vila das Almas
Buriti: Araçá, Vila
Centro do Guilherme: Inajaiatyrenda (TI Alto Turiaçu), Murutyrenda (TI Alto Turiaçu)
Centro Novo do Maranhão: Gurupiuna (TI Alto Turiaçu)
Duque Bacelar: Paisandu, Roça do Meio
Esperantinópolis: Potó
Lago do Junco: Bairro Nova Brasília
Magalhães de Almeida: Alto do Cedro, Entreladeiras, Férias, Lagoa do Bacuri, Oitis, Santa Maria, Vargem Grande
Parnarama: Quilombo Cocalinho
Peritoró: Feliz Alegria
Santa Inês: Bom Jesus
São Benedito do Rio Preto: Baixão dos Rochas, Baixinha, Baixinha dos Carneiros, Cancela, Capelão, Chororó, Macajuba, PA Vista Verde, Quebra Joelho, Santa Rosa, Santo Inácio
São Francisco do Brejão: Centro do Robertão
São Luís Gonzaga do Maranhão: Geré, Mata Burro
São Mateus do Maranhão: Água Branca, Água Branca I, Água Branca II, Água Branca III, Água Branca IV, Água Branca V, Água Branca VI, Água Preta, Alto Grande, Andirobal, Curva, Dendê, Setor MA-01, Vila Nova
São Raimundo do Doca Bezerra: Conrado, Monte Castelo, Três Rios
Timbiras: Canapistola (Território Campestre), Jaibara, Morada Nova
Timon: Boa Esperança
Urbanos Santos: Cajazeiras, Serraria, Sítio do Meio, Surrão
Viana: Aldeia Cajueiro, Aldeia Nova Vila, Aldeia Taquaritiua, Baía, Piraí, Vilinha
Impactos acumulados em 2025: um retrato da crise:
Os dados de junho de 2025 escancaram uma escalada alarmante dos ataques com agrotóxicos no Maranhão:
99 comunidades rurais atingidas, em 25 municípios diferentes;
Contaminação de rios, igarapés e nascentes, envenenamento de plantações e da mata nativa;
Intoxicações em crianças, adultos e idosos, com relatos de queimaduras químicas, enjoo, dificuldades respiratórias e sofrimento emocional coletivo;
Moradores intimidados sob mira de armas por denunciarem os crimes;
Lobby de R$ 1,3 milhão do Sindicato de Aviação Agrícola contra projetos de lei que tramitam nos municípios que visam proibir a pulverização aérea de agrotóxicos – como revelou matéria do portal O Joio e O Trigo.
Essa realidade evidencia um padrão de abandono institucional e a violação sistemática de direitos humanos e territoriais, enquanto comunidades seguem expostas à violência química e e à conivência ou omissão do Estado.
Direitos sendo violados repetidamente:
Os relatos das comunidades atingidas seguem uma mesma lógica de agressão:
Pulverização próxima ou diretamente sobre áreas habitadas;
Contaminação de fontes de água e alimentos produzidos pela agricultura familiar;
Intimidação de quem denuncia;
Silêncio ou conivência das autoridades.
Perda e prejuízos irreparáveis:
A pulverização aérea de agrotóxicos provoca danos profundos, muitas vezes irreversíveis:
Contaminação das águas: poços, cacimbões, igarapés e rios envenenados;
Envenenamento da comida: lavouras da agricultura familiar contaminadas;
Adoecimento físico e psicológico: além das intoxicações, o medo e o sofrimento mental crescem nas comunidades;
Prejuízos econômicos: destruição das roças, perda da produção e insegurança alimentar.
Um caso simbólico dessa destruição é o do Assentamento Califórnia, em Açailândia no mês de abril, onde milhares de abelhas morreram após a pulverização, comprometendo seriamente a produção de mel e afetando o sustento de quem vivem da apicultura.
Agrotóxicos como arma química e ferramenta de expulsão:
O uso indiscriminado de agrotóxicos atinge a sociobiodiversidade, os modos de vida tradicionais e a permanência das comunidades em seus territórios. Moradores denunciam que os venenos são jogados diretamente sobre casas, roçados e até sobre as pessoas – transformando o agrotóxico em arma de guerra para forçar o êxodo rural e abrir caminho para o avanço do agronegócio.
Guerra química e desmatamento:
Essa violência se insere num plano maior de grilagem de terras, destruição dos biomas (Cerrado, Amazônia maranhense e Mata dos Cocais) e silenciamento das resistências.
Como denunciar:
Matemos um canal de escuta ativa para denúncias:
WhatsApp: (98) 98522-2988
Envie fotos, vídeos e relatos.
O anonimato é garantido.
O Mapa:
O documento “Territórios Diretamente Vitimados por Agrotóxicos no Maranhão (Junho de 2025)” é um alerta urgente sobre a guerra química no campo. Em resposta a essa realidade, é essencial fortalecer a organização comunitária, exigir políticas públicas que protegem as comunidades e ampliar as vozes das populações que denunciam esse modelo de morte.
A saída é a agroecologia: com justiça, com vida e sem veneno:
Diante da violência promovida pelo agronegócio – que devasta, envenena, desmata e expulsa – a agroecologia se apresenta como alternativa concreta, popular e ancestral de cuidado com a vida, com a terra e com as pessoas.
A agroecologia não apenas produz alimentos saudáveis, mas fortalece os laços comunitários, protege os territórios, valoriza o conhecimento das agricultoras e agricultores e respeita os ciclos da natureza. Ao contrário do modelo que impõe veneno e monocultura, ela promove soberania alimentar, justiça climática, resiliência frente às crises ambientais e permanência digna no território.
É com os pés no chão e as mãos na terra que as comunidades reafirmam: onde o veneno tenta matar, a agroecologia insiste em fazer viver.
Saiba mais sobre a campanha Chega de Agrotóxicos
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