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Guerra química e jagunçagem química seguem ameaçando os territórios: outubro registra novos ataques e novembro revela o peso do medo

O Maranhão segue enfrentando um ciclo de envenenamento e destruição que avança sobre as comunidades tradicionais. Em outubro de 2025, dois territórios voltaram a denunciar práticas que combinam veneno, intimidação e violência. Em Timbiras, a comunidade Santa Vitória foi novamente atacada por drones que pulverizam agrotóxicos durante a noite, tática covarde que tenta esconder o crime e reforça a jagunçagem química que se alastra pelo estado, mesmo com a lei municipal que proíbe qualquer pulverização aérea.


No município de Magalhães de Almeida, a comunidade São João/Tourada viveu uma sequência igualmente cruel. Primeiro, suas plantações foram envenenadas com agrotóxicos, prática atribuída a um fazendeiro da região, contaminando solo, água, roçados e afetando diretamente a saúde das famílias. Logo depois, jagunços foram enviados para atear fogo, completando o ataque. O incêndio consumiu o que restava da produção, destruindo o sustento e qualquer vestígio da agricultura familiar que alimentava a comunidade.


Esses episódios não são casos isolados. Eles se somam a um cenário que já registra 105 comunidades atingidas em 27 municípios somente em 2025, segundo levantamento da RAMA, FETAEMA e LEPENG/UFMA. E mesmo esses números não mostram tudo. Novembro não registrou ocorrências. Acreditamos que o medo, o silêncio forçado e as ações noturnas com drones dificultam denúncias e revelam a dimensão da subnotificação. O que se vê é a continuidade de uma guerra química e territorial movida pelo agronegócio, que viola direitos, destrói sociobiodiversidade e tenta desmontar, à força, a vida das populações do campo, da floresta e das águas.



Violação das leis, ataque aos territórios

Timbiras segue sendo um dos pontos mais críticos desse cenário de violência. Mesmo existindo uma lei municipal que proíbe pulverização aérea por aviões e drones, os ataques continuam acontecendo sem qualquer constrangimento. Na noite de 9 de outubro, entre 18h e 22h, um drone despejou veneno sobre a área da Fazenda Campestre. A deriva não respeitou limite nenhum e atingiu diretamente a comunidade Santa Vitória. Foi uma chuva de veneno jogada sobre casas, roçados e modos de vida.

Quando uma lei é ignorada de forma tão aberta, o que se revela é a combinação perigosa de impunidade, omissão do Estado e avanço de um modelo de morte que coloca o lucro acima da vida. É o agronegócio adotando drones como instrumentos de contaminação silenciosa e intimidação constante. Uma jagunçagem química que opera de noite para evitar testemunhas.


Em 2024, o Território Campestre já tinha sofrido perdas devastadoras: roças inteiras destruídas, chegando a 100% de perda na agricultura familiar; igarapés, rios e poços contaminados; intoxicações em massa, com feridas, vômitos, tonturas e coceiras atingindo principalmente mulheres, crianças e idosos; adoecimento emocional, medo contínuo e insegurança sobre o próprio futuro no território.


Magalhães de Almeida: veneno, fogo e terror


Enquanto Timbiras enfrenta a guerra química, Magalhães de Almeida vive um clima permanente de terror. O que está acontecendo lá ultrapassa qualquer limite de humanidade. A violência não chega só pelo veneno. Chega também pelo fogo. [relembre]


Depois da pulverização de agrotóxicos que destruiu plantações e contaminou as fontes de água, jagunços foram completaram o serviço: incendiaram roças da comunidade São João/Tourada. Não é só destruição material; é ataque direto ao alimento, ao sustento e à dignidade de famílias inteiras.


Esse não é um caso isolado. A região já denunciou:

  • pulverização sobre a lagoa que abastece diversas comunidades;

  • intimidação armada; [relembre]

  • ataques ao território para quebrar a resistência das famílias.


Em outubro o agronegócio opera com três armas combinadas: veneno, fogo e jagunçagem. Uma estratégia de expulsão lenta, planejada e cruel, que tenta impor medo aos povos e desmantelar a agricultura familiar.


Estamos diante de uma ofensiva pensada para envenenar, destruir, amedrontar e empurrar as comunidades para fora de suas próprias terras. É guerra química. Jagunsagem química. Guerra contra o direito de plantar, colher e viver.



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Comunidades Afetadas de janeiro a novembro de 2025:

  1. Açailândia: Assentamento Califórnia

  2. Afonso Cunha: Barracão, Olho D'Água do França

  3. Altamira do Maranhão: Caldeirão, Olho D’Água, São Raimundo

  4. Araguanã: Maratoyrenda (TI Alto Turiaçu)

  5. Bacabal: Barreirinhas, Catucá, Fundamento, Jardins, Piratininga, Santa Efigênia, Santa Maria, Santo Antônio, Seco das Mulatas, Sobradinho

  6. Brejo: Boca da Mata, Carrapatinho, Centro dos Netos, Criolis, Faveira, Gameleira, Guarimã, Ingá, Lagoa Seca, Macacos dos Vítos, Panela, Prata, São João dos Pilões, São José, São Raimundo, Tabocas, Várzea do Meio, Veado Branco, Vila das Almas

  7. Buriti: Araçá, Vila

  8. Centro do Guilherme: Inajaiatyrenda (TI Alto Turiaçu), Murutyrenda (TI Alto Turiaçu)

  9. Centro Novo do Maranhão: Gurupiuna (TI Alto Turiaçu)

  10. Duque Bacelar: Paisandu, Roça do Meio

  11. Esperantinópolis: Potó

  12. Imperatriz: Viva Deus

  13. Lago do Junco: Bairro Nova Brasília

  14. Magalhães de Almeida: Alto do Cedro, Entreladeiras, Férias, Lagoa do Bacuri, Oitis, Santa Maria, São João/Tourada, Vargem Grande

  15. Parnarama: Quilombo Cocalinho

  16. Pedro do Rosário: Quadra Trindade

  17. Peritoró: Feliz Alegria

  18. Santa Inês: Bom Jesus

  19. São Benedito do Rio Preto: Baixão dos Rochas, Baixinha, Baixinha dos Carneiros, Cancela, Capelão, Chororó, Macajuba, PA Vista Verde, Quebra Joelho, Santa Rosa, Santo Inácio

  20. São Francisco do Brejão: Centro do Robertão

  21. São Luís Gonzaga do Maranhão: Geré, Mata Burro

  22. São Mateus do Maranhão: Água Branca, Água Branca I, Água Branca II, Água Branca III, Água Branca IV, Água Branca V, Água Branca VI, Água Preta, Alto Grande, Andirobal, Curva, Dendê, Setor MA-01, Vila Nova

  23. São Raimundo do Doca Bezerra: Conrado, Monte Castelo, Três Rios

  24. Timbiras: Canapistola (Território Campestre), Jaibara, Mamorana, Morada Nova, Santa Vitória

  25. Timon: Boa Esperança

  26. Urbanos Santos: Cajazeiras, Serraria, Sítio do Meio, Surrão

  27. Viana: Aldeia Cajueiro, Aldeia Nova Vila, Aldeia Taquaritiua, Baía, Piraí, Vilinha



Direitos sendo violados repetidamente:


Os relatos das comunidades atingidas seguem uma mesma lógica de agressão:

  • Pulverização próxima ou diretamente sobre áreas habitadas;

  • Contaminação de fontes de água e alimentos produzidos pela agricultura familiar;

  • Intimidação de quem denuncia;

  • Silêncio ou conivência das autoridades.

 

 

Perda e prejuízos irreparáveis:

A pulverização aérea de agrotóxicos provoca danos profundos, muitas vezes irreversíveis:

  • Contaminação das águas: poços, cacimbões, igarapés e rios envenenados;

  • Envenenamento da comida: lavouras da agricultura familiar contaminadas;

  • Adoecimento físico e psicológico: além das intoxicações, o medo e o sofrimento mental crescem nas comunidades;

  • Prejuízos econômicos: destruição das roças, perda da produção e insegurança alimentar.

  

 

Agrotóxicos como arma química e ferramenta de expulsão:

O uso indiscriminado de agrotóxicos atinge a sociobiodiversidade, os modos de vida tradicionais e a permanência das comunidades em seus territórios. Moradores denunciam que os venenos são jogados diretamente sobre casas, roçados e até sobre as pessoas – transformando o agrotóxico em arma de guerra para forçar o êxodo rural e abrir caminho para o avanço do agronegócio.

  

 

Guerra química e desmatamento:

Essa violência se insere num plano maior de grilagem de terras, destruição dos biomas (Cerrado, Amazônia maranhense e Mata dos Cocais) e silenciamento das resistências.


   

Como denunciar:

Matemos um canal de escuta ativa para denúncias:

WhatsApp: (98) 98522-2988

Envie fotos, vídeos e relatos.

O anonimato é garantido.

 

O Mapa:

O documento “Territórios Diretamente Vitimados por Agrotóxicos no Maranhão (Setembro de 2025)” é um alerta urgente sobre a guerra química no campo. Em resposta a essa realidade, é essencial fortalecer a organização comunitária, exigir políticas públicas que protegem as comunidades e ampliar as vozes das populações que denunciam esse modelo de morte.

  

 

A saída é a agroecologia: com justiça, com vida e sem veneno:

Diante da violência promovida pelo agronegócio – que devasta, envenena, desmata e expulsa – a agroecologia se apresenta como alternativa concreta, popular e ancestral de cuidado com a vida, com a terra e com as pessoas.

A agroecologia não apenas produz alimentos saudáveis, mas fortalece os laços comunitários, protege os territórios, valoriza o conhecimento das agricultoras e agricultores e respeita os ciclos da natureza. Ao contrário do modelo que impõe veneno e monocultura, ela promove soberania alimentar, justiça climática, resiliência frente às crises ambientais e permanência digna no território.

 

 

É com os pés no chão e as mãos na terra que as comunidades reafirmam: onde o veneno tenta matar, a agroecologia insiste em fazer viver.


Saiba mais sobre a campanha Chega de Agrotóxicos


 
 
 

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